sábado, 18 de março de 2017

Logan: matar e morrer


Fui assistir “Logan” ontem, depois de uma longa temporada distante das telonas. Penso que vale o registro, pois até a Universal tem uma vinheta nova e eu não conhecia. Mas vamos aos fatos a serem registrados sobre o filme.



Quando era garoto e lia “quadrinhos adultos” dois temas caracterizavam esse gênero em específico: sexo e violência. Era o que nos atraía, afinal. Tinham as reflexões filosóficas, em alguns casos, mas elas estavam intrinsicamente ligadas a esses aspectos da vida, a própria vida, por mais que a juventude não nos desse a noção exata dessa dimensão, por assim dizer.

Portanto, é importante notar que a figura de Logan neste novo filme, que sempre foi explorada nos quadrinhos sob esses dois aspectos – pois é, homens viris, livres, rebeldes, sempre foram sex simbols na indústria cultural do século 20 e da primeira década do século 21, quiçá ainda resistam hoje –, nunca tivesse matado tão explicitamente na série X-Men.

Mas o filme começa logo com uma cena de ultraviolência onde Logan atravessa crânios e decepa pernas e braços com suas garras de adamantium. Nunca antes na história dos longas-metragens da Marvel se viu tamanha violência da parte dele.

Os que ansiavam pelo Logan de verdade, como eu, se regozijaram. Ora bolas, afinal de contas a arte serve para dar vazão a emoções e sentimentos que a gente não pode extrapolar na vida real. A vontade de matar, de agredir quem é mal ou nos sacaneia, essa sempre foi a função icônica presente em Logan. Seja bem-vindo Wolverine, e adeus.

Logan sempre foi explorado na série cinematográfica dos X-men como um bom moço. O aspecto predominante era de alguém que até poderia ter matado, mas que nunca mais deveria fazer isso, dado o código de ética implantado por Charles Xavier.

No futuro de Logan, o filme (o futuro para o qual caminha a humanidade, pelo que se pode apreender da guinada conservadora e fascista do mundo atual), a vida se torna banal. Cientistas manipulam genes e DNA para criar seres mutantes que devem funcionar como armas humanas. Nesse contexto, matar ou morrer é só um detalhe. Mas a luta prevalece.

E isso faz Logan ser bom como nos  quadrinhos de adultos de antigamente. O faz resgatar a densidade das páginas que folheávamos na juventude. E, agora, podemos compreendê-las de fato, inclusive em seus aspectos existenciais, filosóficos.

Ademais, vale ressaltar que o aspecto sensual de Logan, superexplorado nos demais filmes da série, acabou por ser anulado completamente. Até a pequena Laura parece meio andrógina e tão violenta que qualquer aspecto de sensualidade é nulo. Não há uma musa, uma diva, nada. Um filme realmente fora de série, no sentido de fugir dos lugares comuns dos grandes blockbusters.

Eu não chorei, não. Mas foi quase. Celebrei a morte, como parte inevitável da vida. Difícil mesmo foi suportar o engarrafamento depois na Júlio César, voltando do Shopping Grão Pará, por causa do show da Marília Mendonça e companhia. Escolha um dia bom, se você ainda não viu, e vá ver.

Nenhum comentário:

Postar um comentário