terça-feira, 15 de agosto de 2017

O Glocalismo no Rock Paraense

Como disse no post anterior, amanhã vou ministrar a segunda palestra de uma série sobre sociabilidade em gêneros musicais paraenses no Centur, em Belém, Fonotec Satyro de Mello (3º Andar). O primeiro tema analisou a projeção dos artistas de carimbó por meio das capas de discos lançados a partir da década de 1970. Na palestra/aula de amanhã vou falar sobre Glocalismo no Rock Paraense. Vou analisar um pouco o conceito de cena musical e vou mostrar esse glocalismo/nativismo em músicas e clipes de bandas como Norman Bates, Madame Saatan, Stress, Turbo, Molho Negro e Mosaico de Ravena.

Reprodução Internet do clipe de Respira, da banda Madame Saatan

A palestra acontece dentro da programação da II Feira do Vinil, onde você poderá também comprar e trocar vinis de todos os gêneros pois haverá vários expositores.  A palestra começa às 14h e depois haverá pocket shows de artistas paraenses. Ao longo do segundo semestre, uma vez por mês nós apresentaremos, sempre na Feira do Vinil, apresentarei as características das cenas de gênero que analisei em minha dissertação: a música regional, as guitarradas, o brega e uma certa cena de artistas marginais/alternativos. Esperto vocês lá. 



A cultura musical paraense e o ensino de jornalismo

As alunas Ariana Pinheiro Barros, Fabiana Favacho da Costa e Katiuscia Pamela Souza Macêdo apresentaram há pouco mais de um mês, no curso de jornalismo de uma faculdade particular de Belém, o trabalho de conclusão intitulado “Jornalismo Cultural no Pará: Uma Análise dos Jornais O Liberal e Diário do Pará Sobre a Divulgação da Cultura Popular Paraense”. Este trabalho cita de forma generosa minha dissertação de Mestrado, apresentada em 2014 no Programa de Pós-Graduação Comunicação, Cultura e Amazônia (PPGCOM) da UFPA, sob a orientação do Prof. Fábio Fonseca de Castro.
    Apesar de o recorte da análise ter ficado um pouco confuso, pela amplitude de temas escolhidos dentro da comparação entre os dois jornais, isso não o comprometeu – tanto que foi aprovado com nota máxima pela banca. O trabalho tem a virtude de ser crítico dentro do mar de superficialidades que domina o estudo do jornalismo e da comunicação hoje em algumas instituições do Pará e da Região Norte (quiçá do Brasil).  Certamente, essa criticidade, princípio fundamental do jornalismo, se deve à orientação da professora Shirley Penaforte, pelo que a parabenizo e sou grato pela indicação de leitura do meu trabalho.

     Escrevo e ressalto minha citação no trabalho por obrigação da dádiva que me foi conferida, por meio de dinheiro público, na manutenção da minha pesquisa – pois praticamente toda pesquisa no Brasil foi ou é (não saberemos até quando será) financiada por dinheiro público, e é obrigação de todo pesquisador compartilhar com a sociedade os saberes produzidos por ela (a pesquisa).

      Cito sempre o professor Fabio Castro –  que é, na minha modesta opinião, um dos maiores pensadores vivos sobre a cultura da Amazônia, e, portanto, de uma parte fundamental da cultura nacional –, pela mesma obrigação ética. (Inclusive, os estudos do Prof. Fábio mereceriam ser muito mais debatidos do que são hoje, mas isso é tema para outras reflexões).

       As ideias sobre nativismo e pertencimento na cultura amazônica vêm dele. Eu apenas tenho dado uma singela contribuição na análise desses e outros aspectos na cultura musical paraense (bem como sobre o jornalismo e a própria pesquisa em comunicação). E tenho tentado ajudar na divulgação popular (por assim dizer) dessa ciência tão importante. Assim o fiz em junho passado, quando participei da I Feira do Vinil da Fonoteca Satyro de Mello, no Centur, palestrando sobre a cultura do carimbó eletrificado nas capas dos LP’s lançados a partir da década de 1970.  
       
        Adaptada de um capítulo da minha dissertação, a palestra/aula caiu no gosto do público e, felizmente, da direção da fonoteca que me convidou para seguir com mais quatro palestras sobre gêneros musicais paraenses nesse segundo semestre.  Todas estão presentes na mesma dissertação (amanhã apresentarei a segunda exposição, sobre o rock paraense e já publico um post específico sobre isso).  

       Dito isto, gostaria de fazer, rapidamente, duas observações sobre o trabalho das alunas da Feapa. É fundamental para a mudança do quadro precário de trabalho no jornalismo brasileiro, e mais especificamente na Amazônia, que o jornalismo não só resgate a sua dimensão crítica (no sentido de revelar verdades possíveis sobre a realidade) como a torne rotineira, cotidiana. A cultura das redes sociais, que gera os chamados “haters”, é fundamental para o culto de uma falsa harmonia na sociedade, o chamado “deboísmo” etc etc. A banalização da comunicação social (por meio da tecnologia disponível) tornou os jornalistas e seus estudantes reféns dessa premissa de que não devemos desagradar a ninguém e devemos (obrigatoriamente) agradar a todos. Isso tudo, obviamente, merece aprofundamento, mas já existe literatura dispersa a respeito.

      Pode até ser que a postura crítica das meninas torne a entrada no mercado de trabalho provinciano um tanto difícil. Por isso mesmo, sindicato, faculdades e universidades devem abraçar seus alunos e afiliados no sentido de protegê-los no exercício crítico do jornalismo. Na atual situação que o país vive, esse será um exercício de longo prazo muito doloroso. Principalmente porque na mídia corporativa nacional essa “premissa crítica” é mascarada por interesses econômicos muitas vezes subterrâneos, criando uma imagem muito negativa do jornalismo perante algumas plateias e difundindo falsos princípios em seus praticantes.

        Em segundo lugar, sobre o TCC em si, minha dissertação foi citada nas partes que tratam do Terruá Pará, onde analiso a dinâmica societal de escolha de artistas e produção do programa, bem como de sua dimensão político discursiva, o que por si só torna o trabalho fundamentalmente sofisticado. Não se prendeu a reproduzir a propaganda oficial sobre o evento. E também tratou, ainda que superficialmente, da ideia de nativismo, que é importantíssima para os jornalistas, músicos, artistas em geral, diretores artísticos e produtores darem um sentido para a produção cultural da Amazônia em seu contexto nacional e global.

       Mais uma vez agradeço aos professores e instituições que permitiram a difusão desse conhecimento, às ex-alunas que tiveram boa vontade com minhas dicas e orientações sobre as partes do meu trabalho e desejo muita sorte a elas na trajetória que se inicia. Que consigam elas se manter na mesma linha de pensamento e ação no jornalismo cotidiano.