quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Festival Sociocultural Outros Nativos - Parte 1

Neste vídeo, que publiquei no meu canal no Youtube, eu apresento o projeto Outros Nativos. Outros vídeos virão. Um dos primeiros movimentos que encontrei é a Batalha do Elevado, que surgiu pela mobilização da comunidade depois da extinção da Batalha da Dorothy Stang. Um dos objetivos recentes do projeto é apoiar e conseguir mais estrutura para a Batalha do Elevado. 

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Menos uma batalha no elevado


Há um mês iniciei o trabalho do projeto Festival Outros Nativos, desdobramento da minha atuação como empreendedor social no bairro da Sacramenta. Este é um relato de um dia típico com outros empreendedores sociais do bairro


Sexta-feira, 15 de fevereiro. Cheguei com Samuel e Saul, irmão que fazem a Batalha do Elevado na Praça Dorothy Stang. Mal estacionei o carro e nos deparamos com a cena: cerca de 15 pessoas com as mãos na cabeça e pernas abertas no meio do anfiteatro enquanto cinco guardas da Rondac (tropa de elite da Guarda Municipal) de metralhadoras, motos, capacetes e mascaras na cara. Muk (Samuel) fica logo indignado: “Olha, esses caras!! O que estão fazendo!?”. 
Lembrei do depoimento do dia anterior de Fartura Baby para a matéria que estou fazendo sobre a Batalha do Elevado: “ A Polícia tem que parar de atuar maleficamente no movimento e atuar positivamente”. Digo pra Muka ficar na dele e desembarcar as coisas do celtinha enquanto eu me dirijo aos guardas municipais com minha pele clara, minha barba grisalha e minha camiseta preta dos Sex Pistols escrito “Pretty Vacant”.  Faço fotos enquanto me dirijo por trás da arquibancada do anfiteatro onde um dos guardas dá cobertura, de metralhadora na mão. 
Ele me cumprimenta enquanto eu subo o grande degrau da arquibancada e me pergunta se tem algum parente meu ali entre os revistados. Eu digo que não e tento explicar que vou desenvolver um projeto social ali com apoio da Prefeitura. Ele entende que eu sou servidor público. Eu explico minha condição de morador do bairro. Ele se justifica diz que é um procedimento normal e que são pessoas de bem (os revistados). Mostra um grupo de crianças que estão a seu lado direito. Ele as tirou do grupo de pessoas que estão revistando porque sentiram um cheio forte de maconha. E disse que, nesses casos, o Estado só atua quando a situação foge ao controle. 
Pergunto por que não existe policiamento constante como nas praças do centro da cidade e uso talvez erroneamente a expressão “policiamento ostensivo”. Ele ponta os colegas na revista e diz: está aí!. E disse que mais cedo tinha acontecido a mesma coisa no Horto Municipal (Centro da cidade). O papo se encerra gentilmente. Desejo boa tarde e bom trabalho. Eles terminam revista e vão embora pelo meio da praça passando por cima da grama mal aparada. A gente prepara o equipamento para a batalha do rap. É só mais um baculejo na quebrada. Dessa vez não teve assalto, prisão nem morte.