quinta-feira, 13 de abril de 2017

Nicobates e Jonas 3 Santos na Casa Velha, 226

Show terá repertório contemporâneo, covers, versões e revival do rock paraense dos anos 1990 no sábado de aleluia

Jonas 3 Santos tocando com a banda Soatá em registro de Eunice Pinto

A banda Nicobates e Os Amadores se apresenta neste Sábado de Aleluia, dia 15 de marco, na Casa Velha 226. O show terá a participação de Jonas 3 Santos, paraense que mora atualmente em Brasília e é fundador das bandas Epadu e Soatá, que teve como vocalista a cantora Ellen Oléria, primeira vencedora do The Voice Brasil.

O repertório de Nicobates, codinome de Nicolau Amador (ex-integrante da banda Norman Bates), inclui as músicas autorais de seu primeiro disco a ser lançado este ano e mais versões e covers de música brega paraense, folk rock e rock nacional e internacional. O grupo tem um EP vitual que inclui as músicas “Essa Menina”, “Alter Ego” e uma versão trip hop de “Tigresa”, de Caetano Veloso.

O grupo se apresentará com a seguinte formação: Nicobates (voz e violão); Morial Prado (contrabaixo); Cid Morhy (guitarra) e Silvio Joseph (bateria). A mesma banda base servirá à Jonas, que se apresentará também com o percussionista Ronaldo Curuperé.

Nicobates com a banda Norman Bates no festival Se Rasgum. Foto: Renato Reis


Nicobates e Jonas, juntos, devem relembrar músicas que marcaram a cena rock and roll de Belém nos anos 1990, quando o Epadu antecipava tendências do Manguebeat e o Norman Bates emulava ritmos e estilos do rock para fundir punk com outros gêneros.

Entre as músicas desse revival devem estar “Lunática Maria”, que fez parte também do repertório da Soatá, e “Ruma Cidade”, além de “Uká Uká”, grito tribal da Norman Bates para definir a inteligência humana.

Jonas também apresentará música de seu próximo trabalho, a Berotecnia. As apresentações acontecem a partir das 18h mas a Casa estará aberta desde às 17h.

SERVIÇO:
Show de Nicobates e Os Amadores e Jonas 3 Santos
Sábado, dia 15 de abril de 2017
Onde: Casa Velha, 229 – Travessa Gurupá, 226 – entre Dr. Malcher e Cametá. Cidade Velha.
Ingressos: R$ 7.

Informações: 98168 7474 

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Lei Valmir Bispo: Rolo compressor e resistência na CMB


Vereadores da base do prefeito Zenaldo Coutinho aprovam projeto na Câmara Municipal de Belém que altera radicalmente o conteúdo da Lei que instituiu o Sistema Municipal de Cultura

Os últimos militantes, que saíram da CMB depois das 23 horas de ontem

A Câmara Municipal de Belém, ao final de mais de 10 horas de resistência promovida pelos movimentos culturais e pelos vereadores do PSOL Fernando Carneiro e Marinor Brito, aprovou o projeto que altera radicalmente a Lei Valmir Bispo, que criou o Sistema Municipal de Cultura. A lei está reduzida de mais de 70 artigos para cerca de 40 artigos e abre mais brechas ao poder público municipal para ter controle sobre o Conselho Municipal de Políticas Culturais (CMPC). Também deixa de estabelecer teto mínimo para o orçamento da cultura, definido que o orçamento pode ser de “até 2%” do orçamento total do município.

O Proa (Movimento Produtores e Artistas Associados) e outras entidades culturais montaram plantão desde a manhã de ontem na CMB para tentar barrar o projeto de Zenaldo. Mas não foi suficiente. Marinor e Fernando Carneiro deram entrada em cerca de 300 emendas ao projeto tentando protelar a votação. Com maioria absoluta na Casa, porém, os vereadores aprovaram a proposta governista por volta das 23h.

Houve um momento, por volta das 17h, que perecia que se chegaria a um acordo depois de forte pressão nas galerias. Os militantes gritavam os nomes dos vereadores da base de Zenaldo que nem sequer se manifestavam a cerca da votação.

Pressionado, o vereador Joaquim Campos (PMDB), também apresentador de televisão, subiu à tribuna e falou, mas não disse nada que fosse significativo. Já Blenda Quaresma, também do PMDB, fez bico para a galeria quando ouviu seu nome gritado pelos militantes da cultura. Outro vereador, Dudu da Comunidade, subiu à tribuna e também falou. Ele perguntou se determinados segmentos estavam representados no Conselho Municipal de Políticas Culturais (CMPC). Mostrou que não leu a lei que queria aprovar e alterar. E isso deixou mais indignados ainda os militantes da cultura que gritaram que a Câmara devia mesmo discutir cultura.

Com palavras de ordem, os militantes diziam querer garantir o direito ao trabalho na cultura e receberam da claque do prefeito, formada por DAS e parentes de DAS, ofensas como “bando de vagabundos”. Como eu estava a circular pela galeria e pelo plenário, como jornalista, vi uma dessas pessoas, uma senhora de cabelo pintado, joias douradas e maquiagem exagerada (que, a despeito disso tudo, não conseguia disfarçar sua origem humilde) gritar algo assim: “Vai lavar esse cabelo sujo cheio de piolho!”.  

O clima ficou tenso e a Guarda Municipal entrou na galeria

A jornalista e ativista Úrsula Vidal foi uma das que se sentiu indignada com as ofensas. O clima esquentou e guardas municipais entraram na galeria. “Aqui tem trabalhador, pai de família”, dizia Úrsula.

Ação política e pragmática

Apenas no ano passado a Fundação Cultural de Belém empossou o Conselho Municipal de Políticas Culturais (CPMC), do qual faço parte por indicação do Sindicato dos Jornalistas do Pará (Sinjor-PA) na cadeira de “comunicação alternativa”. O CMPC, porém, não atua efetivamente porque o prefeito sequer homologou o regimento interno do conselho, já aprovado.

O projeto do prefeito contava desde o início com apoio irrestrito da maioria da câmara, que vendeu seu voto por apoio político a projetos que contemplam seus nichos partidários. O PROA se mobilizou para acompanhar e pressionar os vereadores desde cedo. Eu, Úrsula Vidal e o professor de Economia da UFPA, Valcir Santos, irmão de Valmir Bispo, que dá nome à lei popular, entre outros, fomos visitar em dois grupos alguns vereadores para tentar reverter o quadro. Recebemos de vereadores da situação “dicas” para não votar a lei hoje porque caso contrário ela seria aprovada por “um rolo compressor”.

Somente Marinor Brito e Fernando Carneiro formam a mínima frente de resistência que apoia conselheiros municipais, artistas e produtores. Na opinião de Úrsula, a votação foi “um verdadeiro circo de horrores”, que demonstra como a maioria da câmara municipal sequer sabe o que um projeto como este significa para a cidade. Inicialmente, apenas Brito e Carneiro pediram a palavra. Para não obstruir e atrasar a votação a base do governo não se manifestou. Os produtores e artistas da galeria começaram a pressionar, gritando o nome de alguns vereadores para que se manifestassem porque estavam votando a favor do projeto da PMB.

O painel vermelho da Câmara mostra a rejeição dos vereadores às emendas 

Mais cedo, em seu gabinete, o vereador Henrique Soares, que, segundo ele próprio, apoiou Edmilson Rodrigues na campanha municipal mas agora virou base de apoio de Zenaldo, afirmou que não conhecia o conteúdo da Lei Valmir Bispo, apenas o conteúdo do projeto de Zenaldo. Quando se sentiu pressionado, pediu que os ativistas não se manifestassem contra os vereadores que votassem a favor do prefeito nas redes sociais. “Essa é uma arma que nós temos vereador, expor vocês”, disse Valcir Santos.

Articulado com dificuldade, e sem as manhas dos processos políticos institucionais, o movimento cultural perdeu tempo em apresentar emendas ao projeto de Zenaldo para tentar travá-lo na Câmara. Foi essa a “dica” do vereador Moa Moraes, que emprestou seu nome à legenda do PR para ser vereador. Desde o ano passado na Câmara, Carneiro e Brito conseguiram preparar cerca de 300 emendas ao projeto. Moa disse que o ideal eram “mil emendas”. Assim, com essa estratégia seria possível pressionar o governo a adiar ou criar audiências públicas para discutir as alterações.

Moa contou como pressiona o prefeito para atender suas demandas. “Quando o projeto dele que não contempla nenhuma rua que é do meu interesse, eu apresento mil emendas e travo o projeto da Câmara. Até que ele venha negociar comigo”, ensina o vereador.

Talvez a votação tenha um gosto amargo para os militantes da cultura, tão pouco pragmáticos politicamente. Mas não significa uma derrota completa. O projeto de Zenaldo previa que DAS (cargos comissionados do governo) pudessem ter assento no conselho municipal, o que era antes de tudo um acinte a qualquer procedimento ético nessa política,  que caberia ao absurdo. Uma política cada vez mais tacanha, que é enfiada goela abaixo com cada vez menos pessoas reclamando. Ao que parece essa foi a emenda que evitava isso foi a única aprovada quase por unanimidade por Marinor.

Também se manteve, um tanto timidamente, o caráter “deliberativo” do conselho. Mas isso, na minha opinião, não muda a realidade dos fatos.

De fato, a diretriz e a atuação da política municipal de cultura vai depender cada vez mais daqui pra frente de uma ampla participação popular e de lideranças, atuando dentro e fora do CMPC. Assim como toda a política no Brasil de hoje. É preciso descer do pedestal e assumir a linha de frente nos sindicatos, associações, centros comunitários e outras instâncias. Caso contrário, o “rolo compressor” vai continuar ditando o rumo das nossas vidas.