Nunca na história deste País, quiçá do mundo, se discutiu tanto a Comunicação como agora. Da espetacularização da prisão do ex-presidente Lula às Fake News que ajudaram a eleger Donald Trump, passando por factoides, brigas em tv ao vivo envolvendo até Sindicato de Jornalistas e pedidos de desculpas de Mark Zurckerbeg no Congresso Americano, tudo parece trespassar (sim, “trespassar”, como uma lança!) esta ciência tão nova, tão sofisticada e tão banalizada. Daqui a pouco, a gente estará discutindo comunicação como o brasileiro discute futebol. Ou seja, no nível mais rasteiro possível. Alguém tem culpa por isso? Talvez. Mas esse não é o tema desse texto.
Ciro Gomes e o abestado político que se julga o inteligente do MBL |
Uma ex-professora de jornalismo que me iniciou nos meus dois
primeiros estágios disse essa semana em seu perfil que doutores, mestres, alunos
e profissionais de comunicação deveriam prestar atenção em Lula. “Quando ele
pega o microfone e fala todas as atenções se viram para ele”, ela disse. Como se
isso desse alguma qualificação especial a Lula. Ora, apenas este era o fato
mais importante do momento em toda a nação. Todos olharíamos como pedestres param
para olhar um acidente que ocorresse no mesmo quarteirão.
Lula entende tanto de comunicação como eu entendo de futebol.
Ou seja, a gente está mais ou menos no mesmo nível em ambas as disciplinas. E
eu nem sou doutor. Mas quem é doutor como a minha ex-professora e é petista deveria
pagar um dízimo extra ao partido por deixar a Globo conduzir Lula exatamente ao
ponto que ela queria. Sem que ele não tivesse outra alternativa a não ser se
refugiar em seu berço político sindical para simular uma grande comoção de seu
séquito pela sua ordem de prisão.
O povo, professora, lhe digo, lamentou mas deu de ombros. Porque nessa hora a Globo colocou um monte de pessoas pobres contando as suas histórias para o Luciano Huck em rede nacional. Histórias tão mais sofridas que a do Lula. Como a de uma moça que foi estuprada quando criança e enfrentou todo tipo de adversidade para superar o trauma. Eu estava vendo o discurso dele ao celular e estava zapeando pelos canais para ver a cobertura das TV's.
O povo, professora, lhe digo, lamentou mas deu de ombros. Porque nessa hora a Globo colocou um monte de pessoas pobres contando as suas histórias para o Luciano Huck em rede nacional. Histórias tão mais sofridas que a do Lula. Como a de uma moça que foi estuprada quando criança e enfrentou todo tipo de adversidade para superar o trauma. Eu estava vendo o discurso dele ao celular e estava zapeando pelos canais para ver a cobertura das TV's.
Mas este texto não está sendo escrito para penitenciar meus
amigos e professores petistas. Não por isso. Dou ênfase ao fato político mais
importante da História recente do país para mostrar como essa comunicação, tão
popular e tão banal, vai do mais sofisticado ao mais reles em questão de horas.
E vou me concentrar no espectro político do Brasil hoje.
Tão logo a aguardada, celebrada, lamentada e de toda forma
explorada prisão de Lula esfriou nos noticiários, um factoide invadiu a cena da
sucessão presidencial no Brasil. E, olhe, que tanto se falou em fake news que
um factoide acabou roubando a cena. Um velho e já quase esquecido conceito
retornou sem que ninguém, a não ser é claro (é preciso dar o crédito, distante
da minha vaidade pessoal) a este blogueiro de ocasião.
Neste ponto preciso esclarecer a massa que se julga muito conhecedora
hoje em dia dos termos sobre a diferença. Sim, porque certamente há quem dirá
que fake news é o velho factoide e que tudo não passa da mesma coisa com nomes
diferentes. Pois “menas verdade”, como diria o sábio caboclo paraense.
Fake news é tão somente aquilo que uma tradução literal
denunciaria: uma notícia falsa, disseminada nas redes sociais sem checagem que
promove distúrbios de cognição nos acéfalos da comunicação digital.
O factoide é um termo muito mais sofisticado, cunhado pelo
escritor americano e também jornalista
Norman Mailer em sua biografia de Marilyn Monroe. Portanto, os factoides podem
estar, assim com as fake News, ligadas às celebridades. Ocorre, no entanto, que
os factoides são fatos cotidianos que não têm absolutamente nenhuma relevância
(como fatos jornalísticos) até serem explorados exaustivamente pela mídia de
forma inescrupulosa.
Um factoide, diferentemente de uma fake new, aconteceu. Mas
sua abordagem nada tem a ver com sua relevância e seu efeito é quase o mesmo
das fake news: causar distúrbios cognitivos em abestados digitais. Porém, dado
o fato de que aconteceram, eles acabam por enganar abestados um pouco mais
evoluídos. Gente que se julga mais inteligente que a média da massa acéfala das
redes sociais.
Desculpem o palavreado! Minha querida e idosa mãe vive me
repreendendo pelo modo como falo, mas resolvi escrever como falo por
consideração às declarações de Umberto Eco em seu leito de morte. Precisamos
falar a linguagem da ralé para se fazer entender. E, de repente, trazer os
imbecis a outro nível de comunicação. Sim! Porque Eco tinha razão, a internet
amplifica as suas vozes e isso não vai mudar. Não adianta censurá-los! Ou a
gente os educa, ou seremos sacrificados por eles. (Outra hora conto a minha
teoria sobre o palavrão na comunicação fenomenal)
Mas, chega de enrolação, tio, vamos aos fatos. Ou melhor, ao
factoide.
O factoide foi o safanão que o presidenciável Ciro Gomes deu
no idiota blogueiro financiado pelo MBL (nem lembro o nome) que tentou aplicar
uma pegadinha no cearense arretado.
O próprio Ciro, um abestado digital segundo as regras da
geração milenium, atendeu ao chamado do blogueiro achando que teria mais uma
oportunidade de mostrar sua lábia experimentada de outras campanhas em um
momento promissor em que supostamente a saída de cena de Lula lhe favoreceria.
Penso que Ciro se empolga fácil e acredita mesmo que pode
vencer essa campanha. Pode. Como podia em 2002. Mas ele precisa melhorar muito
ainda para não perder de novo para si mesmo. É ingenuidade achar que sua
consciência econômica e seu conhecimento e experiência seriam o suficiente para
aproveitar uma conjuntura supostamente favorável. A conjuntura muda muito
rápido, Ciro. E você precisa estar um passo a frente, como o MBL estava.
Mal Lula esquentou o colchão da cela especial (“uma espécie
de sala de Estado Maior”) em Curitiba e o movimento capitaneado por Kim
Kataguiri já estava mirando na bola da vez: Ciro. Sim, porque não é Manuela D’ávila
e nem Guilherme Boulos que tem chances reais de crescer com a saída de Lula de
cena. Esse cara é o Ciro. E, devo logo dizer, Ciro é meu candidato desde já e
até que surja coisa melhor. Não tem “insencionismo”, não. E não tem carta em
branca também, não. O papo é reto.
Mas, voltando ao factoide. Tão logo o idiota do MBL fizesse a
primeira pergunta, Ciro percebeu a armadilha: “Você é um bolsominion?”, disse. A
cena é hilariante. “Não, eu sou um liberal”, diz o abestado. A primeira pergunta
foi sobre o “sequestro de Lula”. Ciro disse em uma entrevista que se impusessem
uma prisão arbitrária contra Lula ele iria sequestrar o Lula para impedir uma injustiça.
Contra todas as piores expectativas, a prisão de Lula foi decretada da forma
mais arbitrária possível. Mas Ciro não estava lá sequer no caminhão da missa de
Dona Marisa. Quem estava lá eram Boulous e Manuela. Nem Haddad apareceu muito.
Ficou claro que o PT rifou quem iria ter a luz do poste de Lula, como disse o
Paulo Henrique Amorim.
Talvez Ciro tenha usado essa força de expressão para
capitalizar eleitores do Lula. Afinal, ele pode ser coerente, pode até ser
honesto e abestado, mas se julga inteligente. Cabra arretado. Estrategista
eleitoral. Tsc tsc.
Talvez Ciro seja apenas um cara coerente e pouco hipócrita,
como a dita direita liberal jura não ser. Mas é. E esse abestado do MBL é a
prova cabal disso (e eu vou chegar lá). Ciro também disse que receberia a turma
do Moro a bala. Foi uma ênfase maior. Uma forma de expressão. Ele se comunica
desse jeito. Afirmou isso porque sabe e aposta todas as fichas nisso, que jamais
seria preso por corrupção. Isso é o que ele afirma e diz provar: ser honesto.
“Nada mais do que minha obrigação”, é quase um bordão em sua boca.
Esse tipo de comunicação, assim como a comunicação truncada
de Lula e de Dilma, exige altruísmo e
alteridade para ser entendida. Tudo o que não há na comunicação maliciosa do
MBL. Por muito menos Márcia Tiburi deixou o estúdio, fugindo ao debate com Kataguiri. É incrível como esse povo da esquerda cai nessas armadilhas ingênuas. Coisa de crianças inteligentes, sim. Mas mimadas e irresponsáveis.
Ciro é esquentado. Todos sabem. Qualquer pessoa minimamente coerente perde
a cabeça com esse Brasil ridículo de hoje. Com essas instituições falidas e
essa hipocrisia generalizada. Mas o abestado moralista arma factoides e armadilhas
discursivas banais, para alguém que, de boa fé, lhe deu atenção. Quando percebe
a armadilha em que caiu, Ciro sai fora e dá um tapinha na nunca do abestado,
que, muito bem preparado para a sua presepada, não perde a chance e saca: “Hey,
você pensa que eu sou a Patrícia Pilar para você me bater!”.
Fosse aqui na rua de casa e ele pegaria era uma facada. Ou um
tiro mesmo. Na Sacramenta é foda, mano.
Estimulada pelo episódio, uma colega mestrA em Comunicação,
formada e residente do Sul Maravilha do Brasil Varonil, dita liberal, disse que Ciro era, entre outras coisas, um “machistoide”.
Hehehe.
Tipo assim, baby, se considerarmos a mesma premissa do “factoide”,
o “machistoide” é um “machista irrelevante”, um machista que parece, mas não é. O que seria isso? Um machista que não incorre em risco maior às mulheres?
Considerando a postura “feminazi” das amigas debioloides cognitivas do
movimento, isso é quase um elogio. Olha, desculpem as feminazi por
chama-las assim, mas to xingando todo mundo aqui que usa essa comunicação
ridícula. E eu acredito em direitos iguais. Autodenominar-se “feminazi” é um acinte às vítimas do
holocausto nazista, no mínimo. Mas, claro, essa parte deve ser resultado da
minha própria demência cognitiva.
Mas eu sei que minha amiga capricorniana não é feminista. Ela
atenta contra as feministas o tempo todo. Ela é uma abestada cognitiva (uma aberração,
Marilena?!) de nível superior. De pós-graduação. Ela acredita que Ciro não entende
nada de Economia e que o projeto nacional desenvolvimentista dele é uma furada.
E que ele mente descaradamente os números. Olha! Vou te falar, eu já quis muito
rasgar meu diploma. Mas se ele fosse de Harvard como o de Ciro é, e, em vez de
Jornalismo, fosse de Direito ou de Economia, eu ia pensar duas vezes!
Sinceramente, eu não sei o que pensar de vocês! Nem Marx, nem
Smith, nem Ricardo, nem Rousseau explicam a cabeça de vocês. A única cabeça
capaz de entender a de vocês, na minha estúpida opinião, é a do velho e bronco Freud.
Vocês não são liberais ou socialistas. Vocês são neuróticos. Deus me livre.
Mas, voltando ao Ciro e ao facistoide (olha eles aí. Ou seria
“liberaloide”?), é preciso dizer. Falar da Patricia Pilar denunciou seu
caráter. Não adiantou posar de bacana liberal, de inteligente, aplicando golpes
midiáticos de Youtube. Ele se revelou. Mas... ninguém o denunciou. Mas uma vez esse colunista de ocasião vem em
socorro da coerência solidária.
Ciro nunca foi acusado de bater em Patricia. Foi acusado de
uma declaração machista da qual se desculpou e a qual ela mesma já esclareceu
diversas vezes. Inclusive, ela deu recente entrevista a O Globo, em que
desmente mais uma vez essa história e afirma votar em Ciro. E garante: “Ciro
nunca foi machista”.
Portanto, uma malícia, uma perversidade típica da geração
coca-cola deste século, orientada e direcionada para o combate político midiático
que vai marcar estas eleições. Juntamente com o conluio das instituições nacionais.
Todo mundo junto.
Esse factoide é o que os roteiristas chamam de “ponto de
virada”. O plot point da campanha de Ciro e da campanha presidencial como um
todo. O movimento tirou Lula de cena e agora mira no adversário mais forte.
Isso deve servir de alerta para Ciro, que deve corrigir seus rumos e se
preparar melhor para o debate da massa e não apenas falar para uns letrados
intelectuais incapazes de formar opinião hoje no Brasil. E que, diminuídos pela
sua inteligência, se ressentirão.
Não vai ser fácil. Aguardem os próximos capítulos.
Nota 1: “abestado cognitivo” é uma redundância neologística
usada (como outras neste texto) para dar ênfase na comunicação com idiotas
digitais.
Nota 2: As pessoas não citadas neste texto podem existir ou
não. Elas podem ter dito ou escrito o que eu disse que escreveram desta ou
de outra forma. Ou não. No fundo, suas citações são meramente ilustrativas. Não
há nada pessoal no tratamento dado a elas. Aos inteligentes, sábios e
moralistas: estes são recursos narrativos e didáticos.